terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Ah, o Amor! [8/10]

RELACIONAMENTOS GAYS
Desculpem-me as lésbicas, mas não tenho conhecimento e propriedade para falar de relacionamentos entre mulheres.
Se já é complicado para um heterossexual encontrar um verdadeiro amor, imagine para um gay. Eu te garanto: a luta é maior ainda. Primeiro, porque, proporcionalmente, a quantidade de homossexuais no planeta é bem menor que a de héteros. Os mais positivos dizem que são 10% da população. Segundo, para complicar, como descobrir quais jogam no seu time? Teoricamente, um homem pode paquerar uma mulher e encontrar sua parceira em qualquer lugar, sem problemas (inclusive em boates GLS, afinal, “toda mulher precisa de um amigo gay”, e este a leva para as baladas). No máximo, o cara vai levar um fora. Agora vai um homem paquerar qualquer outro na rua, no metrô, na padaria ou no banco. Tem que ser muito macho para ter coragem.
Todo homossexual precisa ter o “gaydar” (radar para detectar gays) por este motivo. Não pode haver a possibilidade de fazer uma investida no alvo errado. Em alguns casos, poderia até mesmo correr risco de morte. Mas o gaydar somente detecta os homens que, em algum momento, demonstram ter uma orientação sexual incomum. Quantos outros não passam despercebidos pelos radares? Quantos estão escondidos nos armários?
A internet e as boates GLS – por mais ressalvas que possa haver – acabam se tornando os principais locais para encontrar um companheiro. Porém, são os ideais? Antigamente, os guetos eram os únicos locais para conhecer iguais. Se alguém quisesse ser discreto, jamais poderia ser visto nesses lugares. A internet veio como uma salvação para os que querem anonimato (“quer dividir o armário comigo?”) e, principalmente, para os milhares de gays que vivem em localidades em que não há pontos de encontro da comunidade LGBT. Inúmeros homossexuais acreditavam serem os únicos no mundo até a chegada da rede mundial de computadores. Alívio e felicidade para esses.
Digamos que o Jake sabe onde tem chances de conseguir um amor. [Vamos usá-lo como personagem do texto] Agora pronto. Se ele sabe em quais locais os gays estão, pode paquerar sem problemas e sair de lá com uma paixão, correto? Mas os amigos que o Jake fez o alertam: relacionamento gay não dura. Tratando-se de dois homens, é impossível haver fidelidade, afinal, o homem é mais sexual e promíscuo que a mulher. A solução é querer “pegar”, não casar. Até que ponto isto é verdade?
Os homens realmente são mais sexuais. Podem considerar papo machista, mas como homem, é a impressão que tenho. Contudo, este não é um motivo para justificar infidelidade ou qualquer outra atitude. O desejo sexual é totalmente controlável – basta querer. Porém, se um casal – homo ou hétero – quer ter um relacionamento aberto, a três, quatro, ou qualquer outro tipo alternativo, quem somos nós para julgar? Não concordo, mas devemos respeitar.
Vive-se um período de transição entre gerações, a meu ver, o que justificaria a atitude de parte dos homossexuais. Deixo claro que esta é uma teoria particular, sem nenhum fundamento a não ser minhas percepções. Eis: Por muitos séculos, um relacionamento amoroso e sexual estável entre dois homens não era sequer considerado. Após o movimento de contracultura e o fortalecimento da luta feminista pela igualdade de gêneros (anos 1960/70), as pessoas puderam viver um período de liberdade sexual sem limites e medo. Como consequência, a Aids ficou conhecida na década seguinte (anos 1980). Desinformação e preconceito ceifaram as vidas de muitos homossexuais. Seguiu-se um período de medo e paranóia – muitos querendo ficar longe de outros gays por medo de se contaminar e muitos ainda se expondo a riscos. Com a reabilitação do uso da camisinha (algo tão simples para se prevenir das DSTs) e do coquetel (para combater a doença), a próxima geração voltou a curtir os prazeres carnais mais protegidos e com menos medo. Resumindo: uma geração “morreu” sem poder viver uma vida gay plena, e a geração “pós-medo da Aids” quis aproveitar a readquirida liberdade.
A atual geração, por sua vez, cresce e vive sem modelos de relacionamentos homossexuais nos quais se espelhar. Quantos casais gays resolvidos, assumidos e felizes você conhece pessoalmente? Eu, nenhum. Creio que este é um período de transição, porque nem todos se deram conta da atual realidade. Muitos ainda vivem a liberdade sexual desmedida e, creio, vão se descobrir sozinhos na velhice – talvez porque um relacionamento estável nunca pareceu uma opção. Contudo, aos poucos, cada vez mais casais gays estão mostrando a cara e servindo de exemplo para os mais novos.
É de extrema importância que os homossexuais famosos assumam sua sexualidade e vivam seus relacionamentos de forma aberta – não os escondendo –, como qualquer famoso hétero faz. Fico muito feliz com exemplos estrangeiros, como o casal Neil Patrick Harris (da série How I Met Your Mother) e David Burtka; o ator T.R. Knight (da série Grey’s Anatomy) que namora às vistas; o cantor Lance Bass e os há pouco tempo assumidos Ricky Martin e Zachary Quinto, que fazem questão de mostrar quem são. Eles e alguns outros são exemplos para muitos homens.
Em um trecho do livro Salto Mortal, da autora Marion Zimmer Bradley, ambientado nos anos 1940/50 nos EUA, um dos personagens – um famoso ator – fala sobre o assunto: “Eu gostaria de viver em um mundo onde me pudessem fotografar com, por exemplo, o Tommy ao colo se eu quisesse. Para cada mulher que ficasse aborrecida por eu não estar, digamos, disponível para as suas fantasias românticas, haveria um garoto que leria os jornais e iria ao cinema, e que poderia deixar de detestar a si próprio e diria: ‘Muito bem, o Bart Reeder é bicha, feliz, bem-sucedido e está se dando bem, então, talvez, eu não precise me enforcar.’ E a taxa de suicídio cairia, e todos seriam felizes.” Sabemos que o suicídio de homossexuais é um problema sério, divulgado principalmente nos Estados Unidos.
No Brasil, infelizmente, praticamente não há famosos abertamente gays, muito menos com relacionamentos assumidos. Esta geração e a próxima precisam fazer sua parte e colaborar com as subsequentes. Atualmente, segundo os resultados preliminares do Censo 2010, o Brasil tem pouco mais de 60 mil casais do mesmo sexo declarados, o que corresponde a 0,1% do total. Esta informação pela primeira vez aferida pelo IBGE. Obviamente, trata-se de números subestimados, pois muitos casais não tiveram a coragem ou não quiseram assumir a relação. De qualquer forma, mostra que a união entre pessoas do mesmo sexo ainda é uma raridade no país.
Voltando à história do Jake, ele finalmente encontrou um amor – fiel, companheiro, carinhoso, etc. Tratando-se de um casal heterossexual, este poderia ser o “E viveram felizes para sempre!”, mas não é o caso. Existem grandes chances de a família não aceitar e, assim, o Jake não poder apresentar o marido aos pais ou levá-lo às reuniões familiares. Obviamente, eles não podem ter um casamento civil – com todos os seus benefícios –, como qualquer outro casal. No máximo, podem declarar uma união estável. Adotar filhos seria uma dor de cabeça, e muitos olhares e comentários de condenação seriam lançados a eles. Além de todas as possíveis situações de discriminação. Não é à toa que muitos casais preferem viver no anonimato. Ou, pior, muitos gays preferem não viver de forma alguma a própria sexualidade.
É Jake, no entanto, quem vai abrir precedentes para a próxima geração. É ele quem vai mostrar que é possível viver um relacionamento gay em sua plenitude, como qualquer outro. Hoje pode ser difícil viver uma relação homossexual, mas se temos essa possibilidade é graças aos antepassados que iniciaram a batalha. Resta-nos seguir em frente.

Observação: As fotos em preto e branco que ilustram este texto são da revista gay americana Out, edição de fevereiro deste ano. Na capa, estão os citados atores Neil Patrick Harris e David Burtka. Eles estão juntos desde 2004 e, em 2010, tiveram filhos gêmeos por meio de barriga de aluguel. Com a aprovação do casamento gay em Nova York no ano passado, eles anunciaram o noivado.
Próximo post: Sexo e Prazer

3 comentários:

  1. Arrasou. o texto tá perfeito. Tb acho que estamos numa fase de transição. Bjao. Eber. Ah....... O logo do novo site está quase pronto. Voltarei com tudo meu amigo. Aguarde! =D

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  2. Bruninho, ah como eu gosto dos seus textos. Quando leio, te imagino argumentando suas teorias comigo, como numa conversa. haha Falando nisso, ah (2) como sinto falta das nossas conversas pela manhã. Chega, né? Nada de ficar todo convencido! hahaha

    Beijos, Brozeio!!!

    PS: To aqui pensando pq seu personagem chama-se Jake... Nao sei, vou pensar mais um pouquinho. haha
    PS 2: "Gaydar" hahaha Adhorey!!
    PS 3: Linda essa capa p&b da Out.

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  3. Gostei e concordo com tudo. só acho q algo precisa ser feito em relação ao suicídio gay, sei lá um lugar onde pudesse abrigar e orientar os q se assumissem e não fossem aceitos pela família.

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